segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Diário de coachee - Seu emocional afeta seu apetite? Porque o meu sim!

          Olá pessoal,

          Quem me acompanha sabe que na semana passada eu tive uma perda significativa em minha vida. Meu gatinho Gasper, companheiro de alguns anos e a maior companhia dos meus dias, estava lutando contra uma pneumonia, e se foi, e isso, é claro que mexeu muito comigo. E aí muitos devem estar pensando "Nossa, mas era só um gato!" Sim, era um gato, que eu cuidei com muito carinho e dedicação desde que ele chegou na minha casa, com seu estado de saúde já fragilizado.
          Em outras épocas, não muito distantes, eu descontaria tudo na comida. Na verdade, foi dessa forma que eu lidei com a maior parte dos problemas que enfrentei na vida. Brigadeiros, sorvetes, biscoitos, doces de mãe, ou qualquer coisa que me desse alguma sensação de prazer, pra confortar qualquer sinal de tristeza. Comedores compulsivos não tem muito critério, e isso eu digo por experiência própria. O negócio era mastigar, como se isso fosse resolver meu problema ou ajudar a pensar na vida.
          Desde que me entendo por gente, luto contra o efeito sanfona, e o pior de tudo era ver a minha irmã linda e magra, e eu achando o mundo injusto, mesmo sabendo que quem devorava os pacotes de biscoito era eu, e não ela. E assim, aos 15 anos mais ou menos, motivada pela minha paixão por comer, principalmente porcaria, e horror a engordar, eu descobri a tal da bulimia, que na minha cabeça não era nada de mais, além de enfiar objetos na garganta pra botar pra fora os meus excessos.
          Coisa ruim a gente aprende rápido, e mesmo sem ter muito acesso à internet, aprendi várias técnicas, e não enxergava as consequências. Na minha cabeça de adolescente sem noção, eu havia encontrado a solução do meu problema, e somente depois de muitos meses me auto mutilando, entendi que não era assim que o processo funcionava, e resolvi me tratar de verdade. Já fazem quase 15 anos que isso aconteceu, mas ainda sinto tanta vergonha, e me pergunto como eu pude ser tão estúpida comigo mesma. Não era o julgamento dos outros sobre meu corpo gordo que me matava por dentro, era o meu próprio julgamento, por acreditar que só seria feliz, ou que só teria alguém, se fosse magra.
          Já havia falado sobre isso por alto em minha coluna no blog da Biblio Ideias, nesse post aqui, mas não é o tipo de coisa que eu me orgulhe. Só estou revelando mais detalhes pra exemplificar algumas formas de como o meu emocional afetava a minha compulsão por comer. Mas graças a Deus o tempo passa, a gente amadurece, conhece pessoas que nos ensinam umas coisinhas aqui e outras ali, e a vida realmente parece entrar nos eixos.
          Por mais que meu peso fosse literalmente um peso na minha vida, eu fingia que não, e mesmo depois de ter passado por muita coisa ruim na época da MIA (termo como é conhecida a bulimia na internet), continuava a fazer mil dietas malucas, me enchia de laxantes, pegava receitas de dr. caveirinha, tudo pra alcançar o peso que eu achava ideal, mesmo estando saudável em meus exames. E isso se estendeu por muitos anos.
          Sempre que eu tinha um problema, comia desesperadamente, depois enchia a mão de laxante e mandava pra dentro. Ou então, eu comia, engordava até não poder mais, depois ia em algum endocrinologista sem noção - e sem ética - que me receitava doses de anfetamina, e pra balancear os efeitos colaterais, prescrevia também algum ansiolítico, o que fazia com que eu ficasse dopada a maior parte do tempo.
          Com o tempo, o corpo começou a ratear, e a dar sinais que não dava mais pra ficar nessa montanha russa de hormônios. Veio a primeira crise de labirintite, depois as de estômago, depois o descontrole emocional sério. Aí, meus amigos, a coisa ficou feia mesmo. Era hora de começar a terapia. E foi a melhor coisa que me aconteceu... Só depois de iniciar esse processo comecei a me aceitar de verdade, e perceber que o meu peso, e o meu corpo, eram os meus menores problemas. Desencanei, dei uma passeadinha pelo mundo da moda plus size, dei um up na autoestima e agora tô aqui.
           Mas porque estou tentando emagrecer novamente, depois de todo esse discurso de EU ME AMO, EU ME ACEITO? A resposta é simples: SAÚDE. É muito fácil ter excelentes taxas nos exames quando se tem 18, 20, 24 anos. Mas como o senhor tempo passa pra todo mundo, também passou para mim, e trouxe com ele as consequências de uma vida desregrada, o que começou a refletir na minha saúde, e até na minha vida social. Depois de tanto tempo, só o que eu consegui foram desgastes de cartilagem, alto índice de gordura corporal, falta de fôlego e ânimo pra viver, consequentes do meu metabolismo de uma velhinha de 64 anos. Deixei de fazer coisas que amava por causa do meu peso, ou melhor, pelos problemas causados pelo meu excesso de peso, e por isso procurei a Dra. Ana Paula, pois precisava de acompanhamento.
          Relatos de vida feitos, voltemos a história do meu gatinho....
          Quando o Gasper morreu, o natural para mim seria correr para a comida, e vou confessar que vontade até bateu, mas no lugar de abrir um Passatempo pra comer enquanto chorava, resolvi que trocaria esse padrão. No lugar de atacar a dispensa, fui dar uma caminhada, e no outro dia dei outra caminhada, e no dia seguinte a mesma coisa, e fui percebendo que a sensação de desenferrujar me fazia tão bem quanto a de comer chocolate. O meu gato, em seus últimos meses conosco, me tomava grande parte do dia, pois tinha uma alimentação especial, e tomava muitos remédios. Eu odeio cozinhar, e isso é uma coisa, que apesar de não gostar, sei fazer bem (herdei esse talento da minha mãe. :D), e foi o que me ajudou a preencher o vazio dos meus dias, já que não tinha mais o Gaspinho pra cuidar. Comecei a estudar receitas saudáveis e formas de tornar meus pratos favoritos mais leves.
          Nem faz tanto tempo assim, mas já aprendi muita coisa, e por isso hoje estou ainda mais motivada. Existe uma infinidade de coisas que podemos fazer pra espantar a tristeza, e comer não é uma opção válida. Fazer atividade física, ter um hobby, meditar, fazer faxina... Qualquer coisa, menos descontar os problemas na comida, apesar de todo o conforto que ela pode proporcionar. Esse é o calo no sapato de muita gente, e eu espero, que abrindo meu coração, consiga ajudar outras pessoas que estão na mesma situação que eu.

          Por hoje é só pessoal, e até a próxima segunda.




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